segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Samuel de Paiva Pires (Presidente da AJPA) em entrevista ao Dezinteressante

(Artigo e entrevista por Ana Catarina Lobato)


O papel e a importância da NATO têm sido temas debatidos a nível internacional. A Organização do Tratado do Atlântico Norte tem-se tentado adaptar política e militarmente a um cenário em constante mudança. A concepção de um novo conceito estratégico é uma tentativa da NATO se actualizar e manter coesa no seio da comunidade internacional.

Em Portugal, a Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico (AJPA) procura divulgar os valores atlanticistas juntos dos jovens e da comunidade em geral, com a ajuda da Comissão Portugesa do Altântico (CPA).

O Presidente da AJPA é Samuel de Paiva Pires, eleito recentemente Vice-Presidente Executivo da Youth Atlantic Treaty Association (YATA), a qual engloba todas as associações da juventude a nível nacional. Além da sua experiência na organização de eventos no âmbito da AJPA, como a SIMOTAN e o PAYS, Samuel de Paiva Pires conta no seu curriculum vitae com um estágio na Embaixada de Portugal em Brasília, onde colaborou com o Gabinete de Imprensa e com o ministro Conselheiro. Licenciado em Relações Internacionais, frequenta, actualmente, o mestrado em Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

Samuel de Paiva Pires segue o exemplo do Secretário-Geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, na utilização das novas tecnologias para chegar junto do público. A AJPA tem-se divulgado a si e aos seus eventos através dos "novos media", forma que garante ser bastante eficaz para atrair participantes.

Procurámos saber junto do Presidente da AJPA o que é a associação, como se dá a conhecer, qual a sua importância no seio da NATO e qual a sua perspectiva da Aliança Atlântica nos dias de hoje. São estes os temas abordados e desenvolvidos ao longo da entrevista publicada pelo Dez.Interessante.



Entrevista na íntegra aqui.


O Dezinteressante foi falar com Samuel de Paiva Pires, presidente da AJPA. A Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico colabora com a CPA e encontra-se ligada à NATO. O presidente da AJPA pretende que esta desempenhe um papel relevante na defesa dos valores atlanticistas e na sua divulgação perante a comunidade nacional e internacional.


Catarina Lobato (CL): Começo por perguntar-lhe o que é a AJPA?

Samuel Pires (SP): A Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico, mais comummente conhecida por AJPA, é uma associação de jovens, que está integrada na Comissão Portuguesa do Atlântico (CPA). Tem vários jovens, universitários, normalmente estudantes de relações internacionais ou de ciência política, em geral de ciências sociais, com interesse pelas diversas matérias da NATO e do atlanticismo. Procura no fundo, junto dos jovens, divulgar os ideais da própria NATO e do atlanticismo.

CL: É claro o foco que a AJPA dá a eventos como a SIMOTAN e o PAYS. Quer-nos explicar em que consistem estas actividades e qual a sua projecção a nível nacional e internacional?

SP: Aproveito para enquadrar um pouco a AJPA. A AJPA faz parte da CPA, e estas, por sua vez, fazem parte de outras duas associações. Há uma ONG, ligada à divisão de diplomacia pública da NATO, que é a Atlantic Treaty Association (ATA), a qual reúne todas as comissões e associações do atlântico nos diversos países da NATO e Parceiros para a Paz. A ATA tem uma associação de jovens, a Youth Atlantic Treaty Association (YATA), que reúne todas estas associações, como a nossa, também nos diversos países. É nesse quadro que organizamos, todos os anos, tanto a SIMOTAN como o seminário de Verão [PAYS], dois eventos internacionais, que contam com a participação de jovens vindos de outros países. A SIMOTAN tem a duração de três dias e é uma simulação de uma reunião de emergência do Conselho da NATO para resolver uma crise, aquilo que lá fora se chama uma "Crisis management simulation". Nós apresentamos aos participantes um determinado cenário de crise e estes têm por objectivo vir a alcançar uma "draft resolution", que de alguma forma tente resolver a situação em causa. Já agora, a SIMOTAN foi criada há quatro anos e neste ano lectivo decorrerá a quinta edição . O seminário já tem uma longa tradição e é, inclusive, muito reconhecido pela YATA e pela ATA. Já vai na sua 14ª edição e é uma semana numa base militar. Este ano foi na Academia Naval, no Alfeite, e o ano passado tinha sido na Base da Força Aérea, em Sintra. Temos novamente participantes estrangeiros e portugueses numa série de conferências, palestras de vários oradores que convidamos, tanto nacionais como estrangeiros. Este ano, por exemplo, houve uma "Policy making simulation", em que pedimos aos participantes que redijissem, o que seria para eles, o novo conceito estratégico da NATO.


CL: A AJPA está, como já referiu, integrada na YATA. Como se estabelece uma ligação AJPA/ YATA e mesmo AJPA/NATO?

SP: Como dizia há pouco, a ATA tem as respectivas ATAS nacionais, que, por sua vez, têm as suas juventudes, como a AJPA. Para que um país possa ter um representante na YATA tem primeiro que ter uma comissão que esteja representada na ATA. Só após a Assembleia-geral da ATA aprovar a participação de um país no seu seio é que esse possível membro pode vir a ter uma associação da juventude. É dessa forma que acaba por ser estabelecida a ligação com a YATA e com a ATA. Em relação à NATO em si, a ATA é uma ONG internacional que não faz directamente parte da NATO, mas estando ligada à divisão de diplomacia pública mantêm uma estreita ligação.


CL: Enquanto Presidente, considera que a AJPA é importante no seio da NATO, é ouvida como juventude?

SP: Sim e vou dar um exemplo do que está a acontecer agora. A NATO e este novo secretário-geral, o Sr. Rasmussen, querem ouvir os jovens, querem que este novo conceito estratégico, aprovado em 2010, além de mais conciso, inclua, de alguma forma, as visões, os pontos de vista das gerações mais jovens, porque vão ser essas gerações, daqui a 10 e 15 anos, a estar à frente das diversas instituições e que terão uma palavra a dizer em relação ao que se passa no seio da NATO. Neste momento há uma crescente motivação para as YATAS e para a AJPA, claro, em tentar fazer chegar à NATO os pontos de vista dos jovens.


CL: A NATO tem procurado as novas tecnologias como forma de chegar mais perto das pessoas. Como procuram a CPA e a AJPA divulgar-se junto da opinião pública portuguesa?

SP: Pegando apenas no início da sua pergunta, principalmente o novo secretário-geral tem tentado alterar o paradigma comunicacional da NATO e isto precisamente para poder chegar aos jovens. Dessa forma, tem vindo a utilizar crescentemente o Twitter, o Youtube, o Facebook, enfim, as redes sociais, os meios de divulgação na internet. Ao longo deste último ano, o que a CPA e a AJPA procuraram fazer foi, também, adaptar-se a este novo paradigma e entre as várias formas de comunicação, as mais visíveis são a nossa "newsletter" trimestral, o nosso canal no Youtube, o nosso blog, o novo site, os grupos no facebook. Tudo isso tem ajudado a aumentar o interesse por estas questões, temos tido mais pessoas nos nossos eventos, mais pessoas de outros pontos do país, pessoas que entram em contacto connosco, que querem saber aquilo que está a acontecer na NATO e o que nós temos a dizer sobre isso. É dessa forma que tentamos comunicar na sociedade portuguesa aquilo que se vai passando.


CL: Muito se tem falado no papel da NATO na actualidade e da sua necessidade de adaptação a um novo cenário internacional. O que pensa sobre este assunto?

SP: Eu iria um pouco atrás. Nós somos obrigados sempre a ir aos anais da história. Estamos no ano de 2009, a celebrar o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Ora, quando o Muro de Berlim caiu e a União Soviética acabaria por se desmoronar, tal como se dissolveu o próprio Pacto de Varsóvia, que era a contra-parte da NATO durante a Guerra-Fria, muitos esperavam que a NATO também se dissolvesse. Depois de 1989, a NATO teve de se adaptar e embora muitos pensassem que a Organização fosse desaparecer, a NATO acabou por ganhar um papel cada vez mais importante no seio da comunidade internacional. É uma organização extremamente atraente para outros países, como vimos ao longo dos anos 90 e mesmo recentemente com a integração dos países da antiga orla soviética. Neste momento, são já 28 os Estados-membros da Organização. O novo conceito estratégico, que será formulado e aprovado depois do conceito estratégico de 1999, o qual ficou desadequado com o 11 de Setembro de 2001, será uma forma de a NATO se adaptar a uma realidade internacional em crescente mudança e cada vez mais acelerada. Isto acontece com a multiplicação da agenda internacional, das várias temáticas que são abordadas e a NATO, hoje em dia, para além de estar no Afeganistão, encontra-se a fazer operações no combate à pirataria na Somália, ajudou em missões humanitárias no Paquistão, aquando do furacão Katrina, nos Estados Unidos. Outro dos exemplo e um assunto cada vez mais premente ao longo dos próximos anos são as alterações climáticas e, mais especificamente, a temática da energia, da "energy security", que é um dos temas principais da agenda da NATO. Portanto, aquilo que a NATO está a procurar fazer é adaptar-se a esta nova realidade internacional e, dizem alguns, tornar-se cada vez mais global. Claro que aqui entra também a relação da Organização com a Rússia e podemos falar ainda de alguns interesses estratégicos divergentes entre os Estados Unidos e a União Europeia no seio da NATO. No fundo, a NATO tem tentado adaptar-se e isso tem sido feito não só a nível político mas também a nível militar através da transformação das capacidades da própria Aliança.


CL: Na sua opinião, e enquanto Presidente da AJPA, quais os principais dilemas com que a Aliança Atlântica se depara actualmente?

SP: Tal como lhe dizia há pouco, eu apontaria três grandes questões. A primeira, a questão do Afeganistão, o papel que a NATO lá tem desenvolvido e o combate ao terrorismo [no Afeganistão]. A questão das relações com a Rússia, que é extremamente importante. A questão da segurança energética e apontava ainda uma outra parte da questão, do ponto de vista da diplomacia pública e da legitimidade da própria Organização junto da opinião pública, que é precisamente uma nova estratégia comunicacional por parte da própria NATO para que as pessoas entendam porque é necessária a sua existência e a acção.


CL: Vai-se realizar em 2010, em Lisboa, uma importante Cimeira. Como é que a CPA e a AJPA se têm preparado para a acolher?

SP: A Cimeira que se vai realizar em 2010, e onde será aprovado, à partida, o novo conceito estratégico da NATO, terá lugar no Outuno, Outubro ou Novembro, ainda não há uma data precisa. O que acontece, neste momento, é que a Cimeira de chefes de Estado em si, chefes de Estado e de Governo, será sempre organizada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Toda a Cimeira em si, toda a lojística recai sobre a alçada do MNE. Da nossa parte, aquilo que estamos disponíveis para fazer, mas ainda não sabemos o que irá acontecer e o que se irá passar, é organizar a Cimeira para os jovens, porque há sempre uma Cimeira, a Young Atlanticist Summit, que precede a Cimeira dos chefes de Estado e de Governo. Foi o que aconteceu este ano, em Estrasburgo.

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