domingo, 8 de março de 2009

A Marinha e as Políticas Portuguesas

Em Portugal, as forças armadas, como todos sabem, dividem-se em 3 ramos distintos: o exército, a marinha e a força aérea. Segundo o orçamento de estado para 2009 (que pode ser consultado aqui), o exército custará ao Estado Português cerca de 705 milhões de euros, a marinha cerca de 511 milhões e a força aérea 390 milhões.
Sendo o exército o ramo mais antigo das forças armadas compreende-se a sua natural vantagem relativamente aos restantes. Contudo, tendo Portugal sido uma potência colonial, tendo um dos maiores mares territoriais e zonas económicas exclusivas (ZEE) da Europa, estando a investir no levantamento oceanográfico de forma a alargar ainda mais o seu espaço marítimo. Será coerente o reduzido investimento que faz na sua marinha?
As fronteiras terrestres de Portugal, com a consolidação da NATO e da UE, não precisarão de grande defesa e a necessidade de um exército de grande envergadura cada vez mais é questionável. Por isso, muitos consideram que deveria ser pequeno, muito pequeno, especializado e moderno. Caminha-se cada vez mais para utilização das forças armadas numa como um instrumento de apoio à política externa, para além do seu papel de defesa.
Um alargamento e modernização da marinha, desde que de forma ponderada, sem exageros, poderia em muito beneficiar Portugal, o seu papel na NATO e na UE. Especialmente quando o país aspira a aumentar a sua influência sobre o atlântico sul, nomeadamente a CPLP, e servir de ponte entre esta e a União Europeia e a NATO (lembre-se o apoio dado a Cabo Verde para a obtenção do estatuto de parceria especial da UE). Ora, não pode Portugal pretender ser um ponto de ligação entre o atlântico sul e a NATO ou a União Europeia sem dispor de uma marinha capaz. Quer para cooperação, patrulhas, crises ou "operações de charme" de diplomacia pública, tão bem conseguidas pelas visitas dos navios. Só assim será possível uma convergência económica, cultural e de defesa. Um real alargamento do atlântico sul.

3 comentários:

  1. Uma evidência visível para todos aqueles que têm dois dedos de testa. É claro que "o poder" não percebe. Pior, não se interessa.

    ResponderEliminar
  2. De facto a discrepância do investimento nos vários ramos resulta de uma tensão recorrente na estratégia de defesa do Estado, entre o Atlantico e a Europa, entre a "Maritimidade" e a "Continentalidade".
    Ao pensar nas características geopolíticas de Portugal questiono, como tu Jorge, que tipo de estratégia (se de facto existe uma) segue o Estado Português na projecção das suas capacidades militares no contexto da UE e da NATO.
    Ainda sobre a Marinha Portuguesa deixo aqui um conceito que acho que tem bastante interesse: "Marinha de Duplo Uso", que podem consultar aqui (http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_abr2007/pag_7.html).

    ResponderEliminar
  3. O problema são os custos de uma tal marinha. Isto é a necessária adaptação das FAP, passando de defesa territorial para a capacidade expedicionária, para qual uma Marinha com capacidade de projecção estratégica seria essencial. Mas esse não é um problema só de Portugal, pois os poucos países europeus que têm conseguido modernizar as sua FA nesse sentido têm sido o RU e a Suécia. Mesmo os instrumentos externos que podem servir de alavanca para tal transformação só o têm sido de uma forma muito limitada - os Battlegroups da UE ou a NATO Response Force.
    De qualquer forma, concordo absolutamente que necessitamos de cada vez mais utilizarmos as nossas FA como um instrumento de apoio à política externa. Mas não esqueçamos também que em 2004 éramos um dos países do mundo com mais forças nacionais destacadas no exterior, e que ainda estamos a pagar esses custos actualmente.
    A nível bilateral a Operação na Guiné-Bissau em 1998 é um exemplo quer da capacidade de projecção estratégica, embora limitada, que Portugal tem, quer da necessidade de melhorar essa capacidade. Para tal um Navio Polivalente Logístico seria essencial. Vamos ver quando o adquirem.

    ResponderEliminar