domingo, 5 de abril de 2009

Entrevista ao vice-almirante Alexandre Reis Rodrigues (Secretário-geral da CPA)

Via Diário de Notícias:

A NATO celebra amanhã 60 anos. Com reformas em curso, como perspectiva a evolução da Aliança?
Sendo a primeira vez [na Cimeira de Estrasburgo/Kehl] que a nova Administração americana vai lidar com os líderes europeus, não se vai avançar com nada de importante. Para saber o que vai ser no futuro, temos que esperar pelo menos mais um ano.

O novo Conceito Estratégico (CE) é um dos pontos da agenda da cimeira que começa hoje...
O grande desafio é o de decidir que modelo de relacionamento vai estabelecer com a UE, em termos de Segurança e Defesa. O CE diz que a Identidade Europeia de Segurança e Defesa se desenvolve dentro da NATO, o que foi aceite há 10 anos e de forma pacífica. Mas a UE não é a mesma de 1999. Como é que a NATO e a UE se vão entender? Julgo que os europeus não podem deixar de falar na sua Política de Segurança e Defesa e não vejo como a NATO pode desenvolver um CE novo sem consultar a UE.

Foi comandante operacional da NATO. O alargamento enfraquece a Aliança, no plano militar?
A dimensão e importância dos alargamentos têm sido de natureza política. Se continuar por esse caminho, mais difícil será gerir consensos e sensibilidades, que nalguns casos são até irreconciliáveis.

A NATO deve policiar o mundo?
A NATO ainda não resolveu a contradição de dizer que não quer ser o polícia do mundo e, na prática, actuar como se o fosse. Tem aproveitado as crises e situações de instabilidade para os assumir como seus, como foram os casos da crise energética na Ucrânia ou os ataques cibernéticos à Estónia. Mas isso são mais questões para a UE [no primeiro caso] ou de âmbito nacional, que não têm nada de militar.

A França reentra oficialmente na NATO. Isso dará origem a novas clivagens com os EUA?
Estão a admitir um membro que foi crítico da Aliança, e dos EUA, nos últimos 40 anos. É uma reviravolta e isso é positivo. A preocupação é sobre o futuro: ao dar à França o Comando da Transformação [em Norfolk], isso vai dar voz aos europeus sobre a forma como as operações podem ser conduzidas. E não sei como isso se vai harmonizar com o outro comando estratégico [operacional, liderado pelos EUA e sediado na Bélgica], que está sintonizado para outras doutrinas e ideias. Pode deixar de haver alinhamento com quem manda no terreno...

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